O possível risco de desabastecimento interno fomentou a decisão do país em começar a importar diesel da Rússia. No entanto, agentes do setor receberam a notícia com ceticismo, devido às sanções econômicas ocorridas desde o início da guerra na Ucrânia.
Apesar de não haver impedimentos políticos ou econômicos para a importação, alguns desafios operacionais precisarão ser contornados, como câmbio, custos e prazos.
Atualmente, o Brasil importa cerca de 25% do óleo diesel consumido, sendo a maior parte proveniente dos Estados Unidos. Segundo Adolfo Sachsida, ministro de Minas e Energia, o país tem estoque suficiente para suprir a demanda interna por 50 dias sem a necessidade de importação.
No entanto, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) vê riscos devido ao aumento da demanda no segundo semestre aliado às incertezas em relação à situação geopolítica mundial.
O governo brasileiro já promoveu duas reuniões entre exportadoras russas e distribuidoras brasileiras de óleo diesel, segundo a agência Reuters. Nesses encontros, o embaixador russo Alexey Kazimirovitch Labetskiy esteve presente.
A empresa catarinense Uptime Trading e Distribuição já anunciou ter autorização da ANP para importar o combustível da Rússia, com contrato de compra de 25 mil toneladas por mês, durante um ano. Agora, falta apenas a apresentação de garantias para finalizar o negócio, que deve acontecer em até 20 dias, segundo a CNN Brasil.
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) declarou não acreditar nos negócios com a Rússia, devido aos entraves provocados pela sanção estabelecida.
Segundo Sérgio Araújo, presidente da entidade, antes mesmo do boicote, o Brasil já não importava diesel da Rússia, devido a oferta do combustível do Golfo do México, custo com frete e tempo de viagem.
Depois de anunciado as negociações de importação com a Rússia pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), o chanceler brasileiro, Carlos França, foi questionado a respeito da declaração em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, temendo o financiamento de uma guerra.
“Talvez você devesse perguntar ao senhor Scholz sobre isso, e então eu respondo”, disse França, referindo-se ao fato de a Alemanha ser um importante consumidor do gás russo.
Após procura por parte dos fornecedores da Rússia por empresas da Abicom para negociações, o presidente da associação afirmou que as operações são inviáveis.
Isso porque a compra de combustíveis russos demanda um acordo diplomático que inclua os Estados Unidos, o que não deve acontecer.
Os bancos têm operações que envolvem a economia americana, então seria necessário ter uma espécie de ‘waiver’ [exceção ao cumprimento de uma regra] com o Tesouro americano”, disse Sérgio Araújo.
Um acordo para a concretização das negociações exigiria um desconto significativo nos preços para compensar a pressão política, segundo um relatório da consultoria S&P Global Commodity Insights, que afirma também a possibilidade de problemas para que o Brasil pagasse pelas cargas, devido a impossibilidade dos bancos em fazer transações com empresas russas.
Apesar das dificuldades, o petróleo russo é realmente negociado com grandes descontos, segundo o relatório da S&P. Recentemente, o barril russo foi vendido com um desconto de US$ 36 em relação ao brent, a principal cotação internacional para o commodity. Antes da guerra na Ucrânia, a diferença entre a cotação russa e o brent era menor que US$ 5.
A S&P Global ainda aponta que a compra poderia reduzir as importações brasileiras das cargas mais caras proveniente dos Estados Unidos, que entregou de 54% a 71% do total de diesel importado pelo Brasil nos últimos três meses.
Fontes: Gazeta do Povo; Valêncio Consultoria
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